IFRS S1 e IFRS S2: um novo marco para a transparência corporativa em sustentabilidade

As novas normas internacionais de contabilidade de sustentabilidade, emitidas pelo ISSB, passaram a vigorar em 1º de janeiro de 2024 com aplicação voluntária - obrigatórias no Brasil a partir de 2026 - e marcam uma virada histórica na integração entre finanças e riscos climáticos, exigindo das empresas maior transparência, governança e preparação estratégica.

RISCOS CLIMÁTICOS

Eduardo Colafêmina

11/12/2025

white clouds over city skyline during daytime
white clouds over city skyline during daytime

A contabilidade internacional entra em uma nova fase com a publicação das normas IFRS S1 e IFRS S2, emitidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), órgão vinculado à IFRS Foundation. Essas normas, lançadas oficialmente em junho de 2023, passam a vigorar para períodos anuais iniciados em ou após 1º de janeiro de 2024, estabelecendo um novo patamar de integração entre finanças e sustentabilidade. Embora a adoção ainda dependa da incorporação por cada jurisdição, o movimento global é claro: o mercado financeiro e os reguladores caminham para tornar obrigatória a divulgação padronizada de informações climáticas e de sustentabilidade.

A IFRS S1 estabelece os requisitos gerais para a divulgação de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade. Ela define como as empresas devem reportar riscos e oportunidades que possam afetar sua performance econômica, o fluxo de caixa e o custo de capital, oferecendo uma estrutura consistente e comparável para investidores e stakeholders. Já a IFRS S2, por sua vez, dedica-se exclusivamente às divulgações relacionadas ao clima, detalhando como as organizações devem comunicar os riscos físicos e de transição, as oportunidades climáticas e os impactos financeiros associados às mudanças climáticas.

A importância da IFRS S2 vai muito além de uma exigência de compliance. Ela representa a consolidação de uma nova lógica corporativa, na qual o clima deixa de ser um tema periférico dos relatórios ESG e passa a ocupar o centro da estratégia de negócios. As empresas precisarão demonstrar como eventos climáticos extremos, políticas de carbono, transição energética e inovações tecnológicas influenciam suas projeções, investimentos e resiliência de longo prazo. Trata-se de uma mudança estrutural, que conecta diretamente o desempenho ambiental à saúde financeira das organizações.

Com a aplicação dessas normas, a credibilidade das informações de sustentabilidade tende a aumentar significativamente. A uniformização das divulgações permitirá que investidores e analistas comparem empresas de diferentes países com base em critérios equivalentes, reduzindo a assimetria de informações e fortalecendo a governança corporativa. Esse avanço se alinha às expectativas do mercado global, que exige relatórios mais consistentes e integrados, especialmente diante do crescimento dos investimentos sustentáveis e do aumento das exigências regulatórias em setores intensivos em carbono.

Para as empresas brasileiras, o momento é de preparação estratégica. Ainda que o Brasil não tenha definido oficialmente a obrigatoriedade das IFRS S1 e S2, as sinalizações do mercado financeiro e das autoridades reguladoras indicam que sua adoção será apenas uma questão de tempo. As organizações que se anteciparem estarão mais bem posicionadas para atender às exigências de investidores internacionais, acessar financiamentos sustentáveis e demonstrar maturidade na gestão de riscos climáticos.

Nesse contexto, a Climate4 Finance reforça a importância de um processo estruturado de adequação às novas normas. A integração entre governança, análise de risco e relatórios financeiros é essencial para traduzir a exposição climática das empresas em informações de valor para o mercado. Mapear vulnerabilidades, identificar oportunidades de transição e alinhar estratégias de mitigação às exigências da IFRS S2 não é apenas uma obrigação emergente, mas uma oportunidade de diferenciação competitiva.

A convergência entre finanças e sustentabilidade é, acima de tudo, um chamado à transparência. A partir de 2024, as IFRS S1 e S2 consolidam um novo paradigma na comunicação corporativa, transformando o tema climático em um eixo central da gestão empresarial. As companhias que compreenderem esse movimento não apenas cumprirão uma norma, mas também participarão da construção de uma economia mais resiliente, responsável e preparada para os desafios do século XXI.

Referências Bibliográficas